Contos de Vigilus 08: Começando as Hostilidades
Continuando com os Contos de Vigilus, hoje no oitavo conto, acompanhamos o Reiver Gerio e seu esquadrão durante uma operação em Nemendghast.
A plataforma de pouso era iluminada pelas luzes oscilantes dos postes, nos quais o arame farpado se enroscara como hera. Espinhos de ferro se erguiam em volta da plataforma, e os corpos empalados neles tinham se reduzido a múmias contorcidas com o tempo. Quatro sentinelas, guardas renegados portando armaduras remendadas, mantinham-se em pé nas bordas da marquise de concreto, observando a escuridão em busca de ameaças. Não pareciam de todo alertas, pensou o Irmão Gerio enquanto os observava através de seus sensores.
Bom. Isso facilitaria as coisas.
Um único e surrado transporte de carga Arvus estava estacionado na extremidade sul da plataforma. Sustentava-se sobre um trem de pouso enferrujado, e as manchas de óleo e oxidação em seu casco sugeriam que a nave não voava há um bom tempo. Foi em direção da estrutura escura desta máquina que Gerio orientou seu vôo quase silencioso. Os dutos emissores de seu paraqueda gravitacional emitiam sutis ruídos de energia que mantinham suspenso o Reiver dos Ultramarines. Ele fez o resto do trabalho, manobrando seu corpo habilmente e deslizando até o local de pouso que escolhera.
Quatro companheiros de Gerio realizaram descidas similares na superfície de Nemendghast, dirigindo-se às várias plataformas de carregamento que abundavam o Desfiladeiro Shemloch. Há algum tempo, naves Imperiais iam e vinham carregando raros minérios e instrumentos de precisão antes de rumar até a Forja Endurance, a cinquenta milhas ao norte, seguindo a estrada quarenta e quatro.
Agora o céu percorrido pelos reivers era escuro e vaporoso. O lugar onde se viam as luzes dos postos de trabalho, refinarias e habitações estava completamente queimado, e a paisagem sob o desfiladeiro estava envolto em sombras fumegantes. A única luz além dos holofotes das plataformas de pouso era o brilho infernal no horizonte, onde se erguia a amaldiçoada Forja Endurance.
Este planeta caiu nas garras dos Deuses do Caos, pensou Gerio. Mas naquele momento, a destruição provocada e a escuridão que trouxeram eram de grande utilidade em sua missão.
Silencioso como a brisa, apesar de sua volumosa armadura, Gerio percorreu os últimos metros de sua aterrissagem na velocidade de uma cápsula de bolter. No último momento, o fluxo de energia de seu paraqueda gravitacional se extinguiu e ele se encolheu em um rolamento. Atingiu o ferrocreto com um baque surdo e controlou sua cambalhota para que o levasse para as sombras sob o velho transportador.
Lá o Reiver permaneceu imóvel. Agachou-se sob o veículo enferrujado como um aracnídeo, fazendo a varredura do local com os sensores de seu elmo. Se alguma das sentinelas demonstrasse sinais de ter escutado sua aterrissagem, ele precisaria agir rápido.
Eles não ouviram. As quatro figuras cobertas por frangalhos continuaram suas patrulhas preguiçosas, separados uns dos outros, e visíveis uns para os outros apenas quando cruzavam os fachos de luz.
“Arcturos Três em posição”, Gerio disse através do vox, seguro de que nem mesmo um sussurro escaparia de seu elmo em forma de caveira. “Não parece que os hereges esperam visitas. A segurança é sofrível”.
“Entendido, Irmão”, respondeu o Sargento Arcturo. “Faça-os lamentar por isso”.
“Em nome do Primarca”, confirmou Gerio, que então desligou seu vox.
Ele refletiu por um momento como ele pareceria, caso um dos hereges tivesse a oportunidade de observar embaixo da nave. Grande, ágil, coberto pelas sombras, as lentes brilhando vermelhas em seu elmo de caveira.
Ele parecia a vingança, pensou, vingança e terror. E assim seria.
Gerio rastejou ao longo do transportador e relaxou quando se agachou sob o nariz da nave. Uma das sentinelas estava passando por ele, atravessando uma área iluminada e desaparecendo novamente na escuridão. O próximo homem da patrulha estava se aproximando; Gerio podia vê-lo através dos áugures termais de seus sensores. Ele passaria diante do esconderijo do Reiver em questão de segundos.
Gerio poderia atacar da escuridão, lançar granadas atordoantes, dar um grito de guerra ultrassônico e fuzilar instantaneamente os hereges, mas esse não era o plano. Por ora, sutileza era necessária. A morte não era o bastante – os traidores precisavam ser silenciados para que nenhuma notícia sobre a presença dos Ultramarines saísse dali.
Então, quando sua primeira vítima passou por ele, Gerio agarrou pelo rosto. Ergueu-lhe do solo e arrastou-o para a escuridão. Então veio o ruído surdo de pescoço quebrado, como um graveto crepitando em uma fogueira, e o Reiver depositou silenciosamente o cadáver sob o nariz do transportador.
Um já foi.
Ele se moveu rapidamente, dando a volta no transportador antes que o próximo sentinela seguisse os passos de seu camarada. Ele notaria o desaparecimento de seu colega a qualquer momento; Gerio não permitiria que isso acontecesse. Ele avançou de trás da nave em um movimento rápido, e sua vítima mal teve tempo para parar e arregalar os olhos antes que ele o atingisse; o Reiver o arrastou para as sombras.
Gerio subiu sobre o herege e ouviu ossos se quebrarem. Ele se ergueu. O guarda não.
Dois.
Continuou se movendo, espreitando como um predador ao longo da rota de patrulha do inimigo. Com dois já caídos, era duas vezes mais fácil que os demais percebessem algo de errado, algo que ele não permitiria.
O Reiver saiu das sombras quando sua próxima vítima adentrou um facho de luz. O momento de confusão do herético era tudo que Gerio precisava; seu punho avançou e se alojou no pescoço do homem, lançando-o ao chão.
Três.
Metros adiante, Gerio viu o último sentinela reparando a presença do gigante que saíra do nada e assassinara seu colega. Antes que pudesse reagir e alcançar o vox preso em seu cinto, a mão de Gerio se agitou e algo de metal reluziu.
O último herege estremeceu quando a faca o atingiu no peito. Ele cambaleou, emitiu um suspiro borbulhante, então caiu de cara no chão. Gerio moveu os dois cadáveres da plataforma até a escuridão, então se agachou para limpar sua faca na grama ressequida.
Quatro.
“Plataforma três limpa”, falou ao vox, e logo ressoaram os sinais de que seus irmãos também tinham cumprido suas missões.
“Excelente, irmãos”, disse o Sargento Arcturo. “Plataformas seguras. Hora de chamar a cavalaria…”
Traduzido por Wilton Barbosa