Contos de Vigilus 01 – Matando um Rei Sombrio
A partir de hoje, Wilton nos traz uma série de contos que vêm sendo publicados atualmente, ambientados em Vigilus, nosso palco para a próxima grande campanha. Nessa primeira história, acompanharemos o trabalho de Klotec, um Assasssino dos Vindicare.
Emeret Klotec, septuagésimo primeiro executor do Templo Vindicare da Lança Negra, continuou imóvel sobre os caibros empoeirados da catedral subterrânea. Eles se manteve em posição por semanas, seus membros em paralisia auto induzida para que permanecesse firme ali no teto. Com os músculos travados, sua mente estava em um transe do qual só agora começara a se libertar.
Custara cada porção de suas habilidades se infiltrar naquela fortaleza amaldiçoada. O lugar era cuidadosamente mantido como um lugar seguro contra olhares curiosos, e a despeito de sua podridão, invadi-la tinha sido mais difícil do que se infiltrar em um abrigo antibombas nível Proteus. Toda sorte de subterfúgios, espionagem industrial, burocracia, chantagens, extorsões e mesmo assassinatos mantinham o Culto dos Pobres Príncipes um segredo fortemente guardado em Megaborealis. Eles tinham se infiltrado naquele continente devastado com tanta habilidade que mesmo os Mecaniclérigos, obcecados por conhecimento, desconheciam sua existência. Seus corredores eram vigiados por híbridos tão desprezíveis de corpo e alma que Klotec os achava repulsivos, e muitos deles tinham sentidos tão aguçados que por mais de uma ocasião ele pensou ter sido farejado por eles. Ele estava quase impressionado.
Levariam meses, talvez anos, para que os cinco operativos detalhados no relatório de Klotec para o Neo-vellum chegassem ao planeta. Sua velha companheira, Elixa de Mornay do Templo de Vanus, estava entre eles. Ela estaria fascinada pela maneira com que os cultistas xenos empregaram propaganda e desinformação como uma arma. Com um padrão psíquico para coordená-los, os Cultistas Genestealer eram excepcionalmente bons nisso. Em Vigilus, os híbridos se imiscuíram com os escravos mecânicos, semeando as sementes de uma futura rebelião e fuga, mas o ataque ao planeta feito pelos peles verdes os obrigou a agir mais cedo.
Entretanto, não importam seus disfarces, alguns aspectos do culto permanecem imutáveis. Sempre havia um círculo interno, como aquele que se mostrou a ele quando seus membros caminharam com grande reverência pela passagem que conduzia à estátua gigante de seu falso deus de quatro braços. Seus companheiros cultistas cantavam, em tom baixo e perseverante, proclamando a glória dos deuses astronautas que idolatravam mais que suas próprias vidas. E sempre havia alguém que eles idolatram como um avatar destes deuses, a aranha no centro da teia.
Sempre havia um Magus encapuzado, careca e alto diante de seus líderes de guerra, exceto um. Então havia o Primus, segurando armas em seus três braços, capazes de matar com um mínimo arranhão. Em seu rastro, haviam Acolytes e Neophytes, de simples mineradores aos engenheiros por trás das mutações que alteravam geneticamente o proletariado de Vigilus a medida em que consumiam água poluída. Klotec sabia que alguns dentre eles acreditavam ser sabotadores, e mesmo assassinos profissionais. O Vindicare se permitiu achar graça, mas seu rosto não moveu um músculo. Esses tolos contaminados pelos xenos não tinham a mínima ideia do quão letal um assassino poderia ser.
Ele os ensinaria em nome do Officio Assassinorum muito em breve.
Houve um som como de rocha escavada, então ali estava – o alvo pelo qual ele tinha sido enviado. O Avô Wurm.
O Patriarca Genestealer rastejou sob o altar construído em seu nome. Um de seus membros surgiu, tão grosso quanto as pernas de Klotec e terminados em três terríveis garras de foice. Então surgiu outro, e outro. Os cânticos, lento e contínuo, aumentou volume e ritmo até que a poeira vibrava nos canos e pilastras em volta dele. Com um guincho triunfal, o Patriarca se ergueu completamente, perscrutando a congregação com seus olhos vermelhos e cruéis. Então o Magus ergueu seu cajado em um gesto breve, e toda a sala ficou em silêncio.
Klotec expirou, libertando-se de sua bioestase com um fluxo de calor que percorreu até as pontas de seus dedos. Consultando seus visores, ele ajustou seu rifle exitus em uma fração de milímetro – e nada mais que isso – e realizou o disparo.
A munição lançada pelo cano do rifle mais parecia um projétil de tanque, com mais de três dedos de espessura, e com o dobro do comprimento. Em seu transe de atirador, o Vindicare percebia muito mais do que a mera visão do projétil atravessando em alta velocidade o crânio bulboso de seu alvo. Ele já sabia que tinha sido um disparo perfeito; ele não precisaria de uma segunda munição.
Antes que atingisse o alvo, o Primus se lançou em seu encalço, guiado por sua incrível presciência, e saltando como uma sanguevespa alçando vôo. O disparo atravessou o torso do cultista. Atravessou o ombro do patriarca em seguida, arrancando seu braço em um jato de uma substância desconhecida – mas o disparo tinha sido desviado pelo ato suicida do Primus, e não eliminou o alvo. Klotec sentiu um lapso de incredulidade, e quase terror. Ele falhara em matar, e o Patriarca ferido já estava cercado por tantos cultistas que desperdiçaria um segundo disparo.
A câmara cerimonial irrompeu em confusão, tomada por uivos, guinchos e gritos de desespero. Os mais perceptivos rastrearam a trajetória do disparo e observava através da escuridão dos caibros. O Magus apontava seu dedo esquelético diretamente para Klotec, guinchando para que suas crias atacassem. Acomodando seu rifle em suas costas em um movimento hábil, o assassino já estava se movendo pela única saída. Ele viu dúzias de criaturas híbridas correndo logo abaixo dele, escalando com habilidade símia as reentrâncias das paredes.
Klotec quase alcançara as plataformas nos fundos da câmara quando três monstros híbridos de olhos esbugalhados se agitavam em sua direção, seus braços extras segurando pistolas que disparavam desesperadamente em sua direção. Ele sacou sua pistola exitus e atirou em suas faces grotescas, uma por uma. Dois deles caíram, sacudindo os braços, mas o terceiro, que tinha os membros travados nos caibros, balançava como uma marionete quebrada.
Saltando para as marquises nos fundos da câmara, Klotec aterrissou graciosamente, rolando para evitar que seu rifle atingisse o triturador industrial logo abaixo. Ele correu incansavelmente através dos corredores, até se deparar com os contornos de algo terrível surgindo das sombras. Era grande, maior até que um Purosangue – e não estava ferido. Sua forma massiva pareceu crescer quando ele abriu seus quatro braços e expôs um crânio alongado e bulboso. Um dos braços arrancou a pistola de suas mãos. Outro o agarrou pelo pescoço.
Um segundo Patriarca. “Não…”, soluçou Klotec. “Não é… possível…”
Então o Tyranid apertou com mais força, e a vida de Emeret Klotec terminou em um jato de sangue e ossos partidos.
Traduzido por Wilton Barbosa