Como Pintar Pele em Miniaturas
Esse vai ser o primeiro de uma série de pequenos cursos/tutoriais que iremos lançar sobre pintura de miniaturas, com foco em Warhammer. Fiquei inicialmente dividido entre começar explicando, uma por uma, as técnicas mais básicas (zenithal priming, blending, wet blending, drybrushing, filtering, loaded brush, stippling, etc), se faria cursos mais avançados, ou se iria por tópicos sobre o que se pretende pintar.
Decidi finalmente pela última opção, pensando que pela imensa quantidade de tutoriais que já existe na internet, poderia ficar um pouco repetitivo. Mas, sabendo da carência de material disponível em português, decidi fazer explicando as técnicas à medida que vamos necessitando e utilizando. Novamente, saber inglês e/ou espanhol expande muito a quantidade de canais e tutorias que se tem disponível sobre pintura de miniaturas.
O primeiro tópico que irei cobrir será como pintar peles, no geral. É um tópico que assombra um pouco muitos dos colegas que pintam miniaturas, evitando pintar pele sempre que possível. De fato não é o mais simples dos temas, então iremos cobrir com bastante calma. Não escolheremos um tipo específico de pele (caucasiana, negra, árabe, ork, daemonette), mas sim trataremos como pintar pele no geral, e depois iremos para alguns exemplos específicos (darei um exemplo de tom de pele caucasiano pálido, caucasiano e negro/africano).
A primeira coisa que gosto de fazer ao pintar algo que já existe na natureza, é simplesmente observar exemplos reais. Ao pintar pele, por exemplo, vou ver fotos e vídeos de pessoas. Ver diferentes tons de pele e como se comportam ao passar por luz e sombra. Também olho para minha própria pele: do meu rosto, braço e mãos. A primeira coisa que notamos sobre pele, é que pele é uma textura extremamente rica formada por várias camadas translúcidas e que reagem bem com luz e sombra. Se parar para observar de perto seu rosto e mãos de perto, provavelmente irá encontrar tons de vermelho, azul, verde, laranja, marrom, branco.
Existe uma extrema riqueza de detalhes e tonalidades na pele, e nosso método para pintar então será esse: após escolher e colocar uma cor base, faremos várias e várias camadas finas e transparentes de tinta até atingir o objetivo que buscamos. Não seguiremos o método Citadel de Base+Wash+Layer+Edge. E de quantas camadas precisaremos? Isso vai depender do tipo de resultado que buscamos e tempo que pretendemos dedicar. Para seu personagem principal líder de seu exército a resposta talvez seja algumas dezenas de camadas, enquanto que para aquela miniatura que você precisa pintar 120 delas para tropas de seu exército, a resposta talvez seja o mínimo possível. É um método de refinamento e melhoramento do resultado pouco a pouco com tons cada vez mais ricos. Esse método será utilizado mesmo quando estivermos pintando pele de criaturas sobrenaturais como gárgulas, zumbis, demônios, orks, genestealers, pois existem certas cores que nossa visão reconhece como sendo pele. Se quisermos enganar nossos olhos e fazê-los acreditar que estão vendo pele e não uma miniatura plástica, teremos que utilizar essas cores para vender esta ilusão.
Por exemplo: pense no Ork clássico, de pele verde. Pode ser algum que viu em D&D, ou o próprio Ork de Warhammer 40K ou Age of Sigmar. Via de regra, reconhecemos como “pele de Ork” pelo hábito de tanto ver. Mas se tiramos o substantivo Ork e pensarmos se nossos olhos realmente reconhecem aquela pintura como pele, a resposta provavelmente será não. Provavelmente parece para os nossos olhos, apenas uma miniatura plástica. Talvez tenha algumas ilustrações ou miniaturas pintadas com detalhe que adicionaram tonalidades de vermelho, de rosa, de marrom, à coloração esverdeada da pele dos Orks e conseguiu assim vender a ilusão da pele esverdeada realmente parecer pele diante nossos olhos. E essas são as cores bases que iremos usar: laranja, vermelho, azul, branco. Existem muitos pintores clássicos de tela (e alguns de miniaturas) que não usam tintas de cor que pele: eles misturam branco, amarelo, vermelho e azul.
Obs: No caso de pele esverdeada de Ork, um dos motivos das pessoas dificilmente se darem ao trabalho de tenta vender muito bem esta ilusão de pele real com tonalidades de vermelho e amarelo é porque o verde é a cor complementar do vermelho, tornando essa tarefa um pouco mais difícil que o normal, sendo normalmente reservada para miniaturas de maior destaque que dedicará mais tempo. Tanto é verdade quando existe a técnica de Verdaccio (muito utilizada em afrescos) para pintar pele que consiste fazer todo underpainting em tonalidades de verde, desenhando todo esboço e valores de claridade e sombras, e então cobrir tudo com um tom de pele. Essa técnica tende a criar sombras muito ricas justamente por causa da complementaridade do verde com o vermelho. Por outro lado, é muito comum ver técnicas de pintura de pele Ork usando-se bastante do amarelo para chegar mais perto desde resultado sem tanto trabalho extra, já que o amarelo é naturalmente um highlight do verde.
Quanto mais vermelho colocamos, mais a pele parece saudável e viva. E precisamos de alguma tonalidade de vermelho (ou rosa, púrpura…cores que possuam vermelho em sua composição) para fazer com que nossos olhos reconheçam e validem aquilo como pele. Mesmo uma pele muito pálida como a de um vampiro, precisaremos um mínimo de vida para saber que é um morto-vivo, e não somente morto. E aí que ficamos criativos…talvez apenas relances de vermelho muito translúcido onde o sangue que o vampiro acabou de beber está passando. Aí faz parte do conceito da pintura da miniatura. Quando pintamos uma figura que buscamos uma aparência mais feminina dentro do padrão, geralmente buscamos pele com bastante tonalidade de vermelho, geralmente focada em algumas áreas como as maçãs do rosto. Mesmo que seja uma pele mais escura/negra/africana, que nesse caso serão tonalidades de púrpura. Claro, do mesmo jeito que podemos usar essa riqueza de vermelho para denotar saúde e feminilidade, também podemos usar para demonstrar uma pele castigada e pouco saudável: talvez muito marcada por castigos, sangrando, com cicatrizes, plugues de metais entrando a pele. As possibilidades são infinitas, e o primeiro passo antes de escolher cores ou pintar é criar o conceito da miniatura.
O Método
Nosso método básico de pintar pele será, após escolher o tipo de pele que iremos pintar (caucasiana, africana, ork, daemonette, etc), separar as tintas que provavelmente iremos necessitar. Precisaremos de uma cor base para a pele, uma cor de sombra, uma de sombra profunda, uma tonalidade avermelhada, uma mais clara, e uma de highlight (a mais clara de todas). Além disso, necessitaremos também de um glaze medium e um flow improver/aid. Esses podem ser de qualquer marca: Acrilex, Winsor&Newton, Vallejo, Greenstuff World, Citadel o que preferir. Existem opções bem baratas no mercado. O flow aid/improver será bem importante para que a tinta flua bem e que a gente consiga pintar facilmente com o mínimo de tinta no pincel. O glaze medium será importante para que a tinta demore mais a secar (praticamente todos os glaze mediums tem um pouco de retardante) e possamos fazer com que as tintas se misturem umas com as outras nas própria miniatura (o que é desejado). Via de regra, se não for dito o contrário, sempre iremos umedecer um pouco o pincel com um pouco de glaze medium e um pouco de flow improver (sem precisar misturar a própria tinta, apenas a umidade do pincel virá dos mediums) antes de colocar tinta no pincel. Fora nossa sombra profunda, toda tinta será bem diluída.
Começaremos preenchendo toda a superfície que será pele com uma camada sólida de nossa cor base. Essa camada pode ser mais translúcida para se valer de algum undershading/zenithal, ou mais opaca, de acordo com a preferência ou objetivo. Se for mais iniciante, sugiro experimentar e testar diferentes possibilidades e aprender com os resultados. Não tenha medo de errar. Pode ser que suas primeiras 3-5 miniaturas tenham um resultado pior que do seu colega pelo teor experimental, mas se continuar tentando, em breve terá resultados bem superiores. Eu mesmo de vez em quando faço erros que me pergunto como tirar toda tinta da miniatura e recomeçar do zero. Mas é assim que vamos além daquilo que já sabemos e de receitas de bolo. Neste etapa, não é realmente necessário nenhum medium ou flow improver.
Após estabelecida a cor base, aproveitamos que ainda não possui tanta informação visual na pele, e traçaremos as sombras mais profundas com nossa cor de sombra profunda. Basicamente as maiores sombras, maiores reentrâncias na pele. Costumam ser nas junções dos maiores músculos e ossos, como no meio das costas ou dos glúteos, ou algumas reentrâncias nas coxas, músculos peitorais ou bíceps. Uma área pode ser só de sombra ou de sombra profunda dependendo de quão profunda você deseje suas sombras e do nível de contraste almejado. Estabeleça bem todas essas áreas com cuidado para não exagerar. Neste etapa, podemos dispensar o Glaze Medium se desejamos sombras bem profundas. Sugiro SEMPRE depois de carregar o pincel com tinta e antes de passá-lo na miniatura para pintar de fato, teste a tinta na parte de trás do seu polegar. Isso garantirá que não tem tinta demais no pincel, ou que a tinta está muito ou pouco opaca. Só vá para a miniatura quando sentir que tem a quantidade e transparência que deseja. Sempre limpe o excesso de tinta do pincel antes de pintar. Feito isso, escolhemos a cor de sombra (sem ser sombra profunda) e pintamos toda área adjacente às sombras profundas sem chegar ás áreas de maior destaque/highlight.
Após estabelecidas as sombras, começaremos por usar a tonalidade avermelhada e iremos pintar de “cima para baixo” (do highlight para a sombra) indo da luz/highlight/altura mais alta com ela, até cerca de 80% da sombra (mas não na sombra profunda).
Após isso, iremos pegar nossa tonalidade clara, e pintar com ela sobre o avermelhado do ponto mais alto, até cerca de 80% de onde foi a tonalidade avermelhada.
Em seguida, iremos pegar a tonalidade de highlight e pintar sobre a clara, do ponto mais alto até cerca de 60% de onde foi a tonalidade clara. Neste momento é importante tomar cuidado para não fazer somente um ponto (exceto quando fazendo stippling) ou somente uma linha (exceto no caso de edge highlight) com a tinta mais clara. Quando fazemos isso no nosso highlight mais alto, gera uma transição muito severa que parece pouco natural para pele. É muito bom quando pintamos superfícies altamente refletoras como metais, e é uma das técnicas usadas para pintar NMM (non metallic metal), mas fica pouco natural para pele (a não ser que esteja buscando uma pele levemente metálica, mas aí já é muito devaneio e especificidade, apenas fixando que toda regra possui exceções).
A partir daí é basicamente repetir esses passos várias vezes até chegarmos no ponto que nos agrada de detalhe e riqueza de tonalidade. Muitas vezes precisamos deixar a miniatura secar após algumas camadas, pois a aparência de tinta molhada e seca é bem diferente. Também é importante decidir onde exatamente ficará nossos highlights mais altos/claros: é muito comum posicioná-los próximos às maiores sombras para valorizar o contraste, mas tudo irá depender do conceito da miniatura.
Este será nosso método básico, podendo sofrer variações. Para esclarecer, segue abaixo um exemplo prático.
Exemplo: Pele Caucasiana
Apesar da introdução ter sido mais amigável, a partir de um certo ponto o assunto pode ter começado a ficar muito abstrato para quem não está acostumado a este tipo de pintura. Então, vamos começar com um exemplo prático de como utilizar este método pintando um tom de pele caucasiano.
Para este exemplo eu escolhi uma miniatura de Necromunda da Games Workshop, da Gangue Goliath (Golias). Eu particularmente adoro essas miniaturas (e todas de Necromunda) e elas tem músculos interessantes para se pintar com técnica de pele, além de rostos bem expressivos. Meus Golias eu pintei com 3 tipos básicos de pele: caucasiano, caucasiano bem pálido, africano/negro, com pequenas variações entre os próprios tipos. Sendo 2 pálidos, 5 caucasianos e 3 negros. Escolhi um dos caucasianos para deixar para pintar por último para auxiliar neste tutorial (talvez não tenha sido a melhor das 10 miniaturas para exemplos, mas vamos tentar).
Bem, as gangues de Necromunda vivem na Underhive: em um mundo completamente poluído, escasso de recursos, com muito lixo, coisas enferrujando, um mundo muito duro. Imaginei os Golias com peles mais marcadas, com mais rispidez entre tonalidades, sombras se projetando mais em direção à superfície, se misturando com ela pelo quão desgastadas e sofridas as peles estão, e também highlights poderosos. Uma leve sensação de poeira ou alguma sujeira aleatória quase sempre presente na pele. Sempre me incomoda muitas vezes quando vejo Golias ou Bárbaros selvagens muito bem pintados, mas uma pele tão perfeita que os músculos parecem mais algum tipo de playboyzinho rato de academia que nunca pegou um sol na vida sem protetor solar e não pega ônibus, do que alguém que vive exposto a todo tipo de dureza e caprichos de uma vida selvagem e dura. Tentei retratar um pouco essa imperfeição e dureza nos meus Golias. Também me chamou atenção os plugues de metal que eles tem penetrando a pele. Com certeza deve deixar algumas marcas e acúmulo de sangue o redor, que será tratado no próximo tópico.
Depois de criado o conceito, restou escolher as cores básicas que iria pintar a pele dele. Escolhi as seguintes cores da marca Scale75 para sombra profunda, sombra, tom avermelhado, claro, highlight: African Shadow, Indian Shadow, Pink Flesh, Golden Skin, Moonray Flesh. E escolhi como cor base, a tinta da Citadel (GW) Bugman’s Glow.
Pintei toda base com uma cama bem sólida e opaca de Bugman’s Glow. Não tinha feito Zenithal prévio neste caso, nem possuía nenhum undershading que desejasse usar. Depois de secar, comecei nosso trabalho de faz e refaz.
Olhei bem com cuidado a miniatura para ter certeza que tinha percebido todas suas superfícies, os pontos mais altos e as sombras mais profundas. Comecei então com as sombras profundas, umedecendo o pincel com um pouco de Flow Improver e carregando com African Shadow. Após tirar o excesso de tinta, comecei a delinear fortemente as sombras mais profundas. Terminado esta parte, umedeci o pincel com Glaze Medium e Flow Improver, e carreguei com Indian Shadow. Deixei um pouco mais de tinta, e comecei a desenhar todas as sombras (profundas ou rasas, sem tocar nos pontos mais profundos da African Shadow), e expandindo até um pouco dos pontos claros. Em seguida fiz o mesmo de carregar com Glaze Medium e Flow Improver, carreguei também um pouco mais com Pink Flesh, testei e fui do ponto mais alto até o começo das sombras (somente onde tinha Indian Shadow, a parte de African Shadow fica profunda e intocada). Enquanto a tinta ainda está molhada e fresca, umedeço novamente o pincel, carrego com Golden Skin e faço os highlights.
Paro um segundo para refletir sobre o conceito da miniatura, e vejo que será mais de ter várias tonalidades difusas para mostrar o quão castigada aquela pele é, do que de chamar atenção para highlights. Toda a miniatura e o cenário é mais apagado. Highlights extremos ficarão para coisas que chamarão atenção específica como uma mira laser, algo neon, qualquer coisa que sirva para chamar atenção. Então fiz mais algumas vezes os mesmos passos para gerar esse efeito, sem chegar a fazer uma única vez o último passo. Só então carreguei o pincel com Moonray Flesh e fiz os highlights mais extremos.
Repito os passos mais algumas vezes conforme necessário.
Obs: Durante o passo sombra para claro para highlight, eu não costumo limpar o pincel. É como uma mistura de wet blending com loaded brush. Neste caso, por exemplo, eu limpo o pincel depois de terminar de usar African Shadow. Mas depois de usar Indian Shadow, eu só umedeço o pincel e carrego com Pink Flesh sem limpar a tinta que estava no pincel, e então também só umedeço e carrego com Golden Skin também sem limpar o pincel. Se vou seguir para Moonray Flesh, faço o mesmo. Somente quando termino o último passo de highlight que limpo o pincel. Ou seja, quando terminei um passo de highlight/claro e vou retornar a uma sombra (seja mais profunda como African Shadow ou sombra normal Indian Shadow), somente aí eu limpo o pincel completamente. Como estou usando retardador de secagem e pintando rápido, a tinta não deve secar no pincel em um único passo por causa do pouco tempo usado.
Abaixo seguem algumas fotos sobre resultados com este método. A miniatura com cabelo metálico foi a que mais demorei, resultando numa tonalidade mais rica. A de cabelo verde foi um tempo intermediário, e de cabelo escuro/negro demorou apenas 10 minutos para concluir a pele.
Resultados com este tipo de técnica:
Obs2: Tintas acrílicas com base gel (ex: Scale75 e Warcolours) tendem a demorar mais a secar do que tintas acrílicas com base de água (Acrilex, Citadel, Vallejo, P3, Reaper, Coat’d’arms, AK). Tenha isso em mente quando estiver usando a tinta. Algumas precisam de mais retardante do que outras.
Obs3: Tenha sempre o conceito de sua miniatura em mente para saber quando romper a “receita de bolo” e fazer o que seria melhor dentro daquele contexto. Como neste exemplo de pele caucasiana, que repeti algumas vezes o processo antes de realizar o último passo do ciclo pela primeira vez para melhor refletir o conceito que tentei criar.
Obs4: Não existe fórmula mágica. Você pode obter um bom resultado relativamente rápido com este método. Eu mesmo limitei o tempo que passei pintando a pele de meus Golias a, no máximo, 30min para cada miniature. Mas, se você quer um resultado realmente impressionante, precisará demorar mais tempo. O segredo de bons resultados, seja no trabalho, estudo ou arte, é o resultado do trabalho duro. A pele que tenho mais orgulho é a cabeça do meu Primus dos GSC, e demorou tanto quanto a pele de 2 Golias inteiros. E não tenha medo de errar. Evite errar, mas se fizer algum erro, é só tinta, e tinta a gente pode cobrir. Não se desanime, corrija seus erros e continue. Todos fazemos erros, desde o garoto de 4 anos começando a pintar com o pai até Sérgio Calvo.
Obs5: Evite pintar as sombras apenas de preto. Tonalidades geram interesse visual. Quando for fazê-lo, busque pintar de preto somente a mais absoluta sombra. O mesmo vale para as partes mais claras/highlights: evite pintar somente de branco. Talvez para highlights muito extremos ou materiais de transições duras como em superfícies metálicas. Novamente, tonalidade gera interesse visual. Novamente, toda regra possui exceções.
Obs6: Quando escolher um highlight quente, escolha uma sombra fria, e vice-versa. Por exemplo: Se vamos sombrear uma pele básica Cadian Fleshtone da Citadel. Poderia ser escolhido uma sombra Doombull Brown (quente) e um highlight Frosbite(P3) ou Glacier Blue(Vallejo) (frio). Novamente, toda regra possui exceções.
Cores de Interferência
Existem muitos casos em que estamos tentando criar tons de pele que não são naturais e não serão cheios de laranjas, amarelos e vermelhos. Existem peles demoníacas ou de genestealers roxas, peles verdes de orks, peles pálidas de vampiros, peles pétreas de gárgulas, peles que alguma parte estará podre ou gangrenando, entre tantas outras possibilidades. Existe a necessidade de chamar atenção para algum ponto onde o sangue flui mais por causa da fúria que o guerreiro está, ou para chamar atenção para feminilidade, ou vergonha, ou alguma outra demonstração de estado emocional, ou até mesmo uma iluminação incomum à qual a miniatura estaria exposta em seu conceito. Ou, às vezes, apenas para criar interesse visual na miniatura adicionando novos tons. Para isso, existem as cores de interferência.
Os cores de interferência podem ser algo ridiculamente complexo ou ridiculamente simples. Resumindo, serão cores extras, além daquelas que selecionamos anteriormente como cores base da nossa pele, que ajudarão a compor e pintar o conceito que criamos. Muitas vezes (geralmente, na verdade) serão glazes muito muito finos e transparentes somente para gerar interesse visual. Ou talvez algum freehand desenhando veias e artérias. Outras vezes serão cores mais sólidas para denotar estados de alteração de pele, como um pedaço da carne que está apodrecendo.
No caso exemplo acima do meu Golias, eu precisava algo que ressaltasse a carne irritada ao redor dos plugues de metal que eles tem inseridos na pele. Metal penetrando a pele tem que gerar algum tipo de irritação e coágulo. Como eles não são nenhum mega personagem/líder/herói/HQ e tenho pelo menos 10 deles para pintar, optei por um caminho menos complexo e mais rápido. Após alguns testes, verifiquei que a tinta Bloodfest Crimson da Scale75 seria perfeita para meu propósito. Eu apenas diluí um pouco a tinta, e passei muito cuidadosamente ao redor de todos os plugues. Tarefa cumprida. Neste caso, muito simples.
Um dos pintores que mais me chama atenção para o uso e abuso de cores de interferência é o pintor Sérgio Calvo (para mim o melhor do mundo em miniaturas). O próprio método dele de “capibases”, (diferente do meu) que tende a fazer um sketch de todos os valores e cores básicas e no final trabalhar as tonalidades através de glazes, favorece isso. Claro que no caso dele estamos falando de um caso avançadíssimo do melhor do mundo, onde você irá testemunhar todo tipo de cores loucas na pele mais comum e padrão de todas. Não é um caso que tentaremos replicar aqui, mas é um caso que citamos porque é um excelente caso para se observar e entender as possibilidades. Ver algumas das miniaturas pintadas por ele e prestar atenção com muito detalhe na pele, tentando identificar essas cores (são muitas).
Vamos supor – para os familiarizados com Warhammer – que vamos pintar algum demônio de Slaanesh. Pode ser uma Daemonette, algum Herald, ou até o Keeper of Secrets. Via de regra, estamos tentando criar uma tonalidade de pele roxa ou arroxeada. Este tipo de tonalidade pode ser feita integrando tintas de cor púrpura/roxa/violeta a alguma das cores escolhidas em nossa fórmula inicial, ou pode ser adicionada como uma cor de interferência. Neste caso, provavelmente será o uso padrão de glazes bem transparentes para adicionar aquela tonalidade à pele que está sendo pintada. Outras possibilidades existem como adicionar como cor de interferência, mas fazendo sketch ou freehand para texturas específicas de peles incomuns. Quando estiver pintando coisas mais fantásticas e irreais, como demônios, quebrar algumas regras como a Obs5 e 6 do tópico anterior podem favorecer, pois irão gerar a sensação de algo não natural. Esse é um dos exemplos de como quebrar as regras.
Cores de interferência também podem ser usadas para “Filtering”. Literalmente, para filtrar cores. Isso pode ser desejado quando a miniatura (ou parte dela) está exposta a uma luz diferente da luz normal do dia: pode ser uma luz de luar, uma luz neon, ou qualquer outra tonalidade. Ou até mesmo para denotar uma pele que vive exposta a um sol forte, ou até que está perto de uma forja ou chama intensa (mesmo princípio de OSL – Object Source Lighting). Nem sempre será aplicado em toda a pele da miniatura: no caso da chama de uma forja, por exemplo, somente na parte exposta à forja. Meu Primus GSC, eu uso filtering púrpura e violeta na parte de trás da cabeça para denotar as mutações e veias Genestealer, e uso amarelo na frente do rosto no ângulo de luz de 1 hora para denotar a luz natural e mudar o ângulo de luz de um Zenithal padrão a 45 graus teria. Essa mudança de ângulo de incidência da luz ajuda a dar um efeito diferenciado para personagens importantes e pode ser feita de forma mais simples com Filtering e/ou Zenithal para não usar tanto tempo. Para realizar qualquer efeito de Filtering, via de regra, o ideal é a tinta o mais translúcida possível. Eu particularmente gosto de usar as inks Warcolours para isso, pois são feitas basicamente para isso. Inks, sejam de qual marca for, geralmente são o ideal para este tipo de efeito, por serem bem translúcidas. Apenas prestar atenção que costumam ser tintas BEM intensas, precisando ser muito bem diluídas antes do uso para apenas filtrar. Caso não possua Inks, seria utilizar tintas de Glaze mais diluídas. Se também não possuir Glazes, seria diluir bastante a tinta que for utilizar com Medium e testar a transparência antes de aplicar na miniatura. Lembrando que na ausência de tintas como Inks e Glazes quando criar a sua própria, neste caso é importante escolher tintas que são naturalmente translúcidas. Por exemplo, se for utilizar violeta, dê preferência a tonalidades mais escuras, que possuem pouco branco (opacidade) nelas. Vermelho e amarelo são naturalmente translúcidos, ajudando bastante nesse caso.
Segue abaixo imagens de exemplos específicos de cores de interferência para denotar mutações (rosto do Primus e do Magus), ou apenas ressaltar de forma muito sutil variações na pele usando roxo, azul e violeta (mãos e braços do Magus):
Exemplo 2: Pele Caucasiana Pálida
Vamos agora para um exemplo prático em que adicionei cores de interferência e usei duas sequências diferentes de tintas pra pele: uma antes e outra depois do processo de Filtering. Lembrando que foi simplesmente a sequência que decidi para pintar esta miniatura. No caso do Primus, o Filtering foi a última coisa que fiz.
A princípio escolhi como cores base, sombra profunda, sombra, avermelhado, highlight: Cadian Fleshtone, Doombull Brown, Cadian Fleshtone + Doombull Brown, Kislev Flesh, Pallid Wych Flesh (todas são tintas da Citadel/GW). Desejava uma tonalidade de pele caucasiana muito clara e pálida, mas ainda assim lembrando dos plugues de metais e substâncias que os Golias usam, desejava ainda ter bastante tonalidade avermelhada mas mantendo as palidez da pele. Isso me levou à decisão de fazer todo um sketch rápido das cores de valores (claro/escuro) da miniatura, similar ao sistema de Capibases de Sérgio Calvo, e depois realizar Filtering, antes de partir para o sistema que estamos utilizando aqui. Neste primeira parte, não utilizei nenhum Flow Improver ou Glaze Medium.
Eu tinha 10 Golias para pintar. Não é uma miniatura única que será a líder do meu exército, mas também não é uma tropa normal que tenho dezenas e dezenas para pintar. Os Golias são uma unidade de Elite com 10 deles, e também servirão de Proxy de Aberrants no meu exército GSC. Tendo isso em vista, eu não queria passar horas e horas pintando cada um e suas peles, mas gostaria que tivesse uma certa qualidade e diversidade. Queria evitar que todos tivessem a mesma tonalidade de pele.
Terminada esta primeira parte, diluí a tinta Warcolours Purple Ink. Mas não muito, pois queria ainda intensa a cor. Passei a Purple Ink por toda área de pele da miniatura e deixei secar. Feito o Filtering, que geralmente é um processo muito rápido quando não se trata de OSL.
Então voltou o processo de escolher cor base, sombra profunda, sombra, avermelhado, highlight. Nesse caso existem algumas mudanças, pois já tenho uma cor base estabelecida pelo passo anterior que fizemos. Então ela será pulada. E já tenho MUITA tonalidade vermelha por causa da Purple Ink usada e eu quero uma pele bem pálida, então mudaremos de tonalidade avermelhada para tonalidade pálida. E as sombras profundas também já estão estabelecidas. O resultado fica sombra, tonalidade pálida e highlights, que escolhi respectivamente Arabic Shadow, Miskatonic Grey e Pale Skin (todas da Scale75). Tomei o cuidado de deixar algumas partes a Purple Ink transparecer mais para dar a impressão de veias.
Segue abaixo imagens com este método:
Exemplo 3: Sketch Style Genestealer Simples
Eu tenho um exército Genestealer, e tive que pintar 10 Aberrants e 1 Abominant para ele. Essas miniaturas possuem cerca de 60% (um chute aproximado) de sua área somente de pele roxa. Isso significa que eu iria passar muito tempo pintando pele de uma cor exótica em várias miniaturas grandes. Pintar pele é um processo demorado. Então neste caso eu não queria um resultado fantástico, apenas chamar atenção para os valores (claro/escuro) dos músculos, com um resultado aceitável mas bem rápido e que favorecesse a pintura nas áreas dos Aberrants onde a pele vai se confundindo com a carapaça azul sem eu ter que ficar horas fazendo glazes para conseguir uma transição perfeita. Como toda tinta roxa já possui vermelho naturalmente e não queria um resultado tão perfeito, pulei a parte de tonalidade avermelhada.
Nesse caso eu escolhi as cores base, sombra profunda, sombra, highlight respectivamente: Slaanesh Grey, Druchii Violet, Daemonette Hide, Pallid Wych Flesh (todas tintas Citadel/GW). A execução foi um meio termo entre o método Citadel e o que apresentamos aqui. Primeiro cobri tudo com Daemonette Hide e usei Druchii Violet de Wash em toda área de pele da miniatura. Feito isso, fiz um Zenithal com Pallid Wych Flesh em todas elas. Pintei estilo sketch com Slaanesh Grey em tudo que possuía alguma superfície sem estar em sombra. Reforcei o Edge Highlight mais extremo com Pallid Wych Flesh. Como esse método rápido não gerou as transições mais suaves, suavizei com um Glaze de Daemonette Hide para juntar as cores.
No final achei o resultado bom para o tempo que gastei, o que buscava e comparando com a quantidade de miniaturas que tinha para pintar e o tamanho delas. Observando bem, a pele ficou com um aspecto um pouco pétreo, meio como que pele de gárgula. Isso ocorreu principalmente por dois motivos: eu fiz transições menos suaves (o que remete a superfícies mais refletoras como metálica ou de algumas rochas), e as tonalidades avermelhadas ficaram concentradas em tons mais frios de roxo que aumenta a sensação de algo não natural e diminui a sensação de algo vivo.
Caso desejasse refinar mais este resultado, deveria suavizar mais as transições através de Glazes como já fizemos nos outros casos, e também poderia acrescentar algumas tonalidades mais avermelhadas – talvez através de Filtering – em algumas áreas onde se acumula mais sangue. É algo que posso voltar e fazer mais tarde com a miniatura já terminada e pronta para jogo caso tenha tempo, mas já temos algo que pode ser usado rapidamente na mesa com um bom resultado.
Tintas: Quais Preciso?
Existem muitas e muitas marcas de tinta para miniatura. Eu uso as que vou gostando mais e consigo comprar. Algumas pessoas podem e compram todas tintas que descobrem que existem, outras só podem usar a mais barata que existir. Existem ótimos resultados com Acrilex e péssimos resultados com Abteilung ou Scale75. Só para dar uma ideia de quantas marcas existem, citarei apenas as que lembro de cabeça no momento: Citadel, Vallejo, Scale75, Warcolours, P3, Kimera, Coat’d’arms, Reaper, Badger Minitaire, Secret Weapon, Pro Acryl, AK, Mig, Abteilung 502, Andrea Color, Tamyia, Italeri, Army Painter, Greenstuff World. Fora outras marcas não feitas especificamente para miniaturas que são muito utilizadas por pintores profissionais de miniaturas como Golden, Daler Rowney e Winsor&Newton. E a nossa super popular aqui no Brasil, Acrilex.
Caso não use uma tinta feita especificamente para miniaturas, provavelmente terá que dilui-la um pouco mais. Em todo caso é o melhor conselho que sempre dou: teste a tinta que está no pincel antes de aplicar na miniatura e é mais fácil adicionar mais tinta do que retirar.
Em termos de cor de pele, se não tiver nenhuma tonalidade próxima da que deseja, elas sempre podem ser criadas através de tentativa e erro, sendo misturadas, se você tiver tinta branca, amarelo, vermelho e azul.
Tintas diferentes se comportam de maneiras diferentes. As tintas que são mais amigáveis aos mais iniciantes provavelmente são as tintas acrílicas com base em água, como Citadel, Vallejo (exceto Vallejo Metal Color), P3, Reaper, Secret Weapon, Army Painter. A primeira vez que usei as tintas da Scale75 (acrílicas base gel), achei que tinha feito a pior compra do mundo. Elas ficaram um bom tempo encostadas, até que tentei dar novas chances, já que tantos bons pintores falavam bem delas. Depois de alguns testes fui aprendendo melhor como usar, as particularidades daquele tipo de tinta. As formas como reagiam diferente sendo diluídas, com e sem primer, com bases feitas no pincel ou aerógrafo, etc, etc. Existem vários e vários tipos de tinta. Existem tintas com acabamento metálicos incríveis com base de cera, mas que são péssimas para se pintar em cima, tendo que, via de regra, ser a última camada de tinta que irá usar. Se o orçamento for mais limitado, pode ser interessante ficar em um único tipo e marca de tinta que se sente mais à vontade. Se não for o caso, recomendo expandir os horizontes e ir aprendendo aos poucos como os diferentes de tintas se comportam. Hoje em dia, dificilmente pinto uma miniatura sem alguma tinta da Scale75.
Por enquanto é só, e boa pintura!